Para um pai ser considerado bom, como primeira e mais importante condição, deve gostar do filho. Sem amor, as coisas ficarão complicadas. Entretanto só ele não é o suficiente. Do pai, o filho espera, além disso, amizade e autoridade. Tem que ser o paizão, o amigão de todas as horas. Principalmente nos momentos difíceis, quando se ouve aquele berro dentro de casa “Pai !”, um pedido de socorro, de apoio, à pessoa que lhe dá segurança.
Segurança derivada da autoridade, que não tem nada a ver com autoritarismo, onde as ordens são acompanhadas, com freqüência, de punições. O pai frouxo, que atende a todos os desejos do filho, não lhe dá a segurança necessária para seu correto desenvolvimento emocional. Existe uma certa confusão em relação à autoridade e carinho, pois acreditam que sejam sentimentos excludentes, o que não é verdade. Um pai pode ser muito carinhoso e ter autoridade, O relacionamento dos pais com o filho pode ser comparável à construção de uma casa, que começa com a base e que os tijolos vão sendo colocados no dia a dia representando, cada tijolo, um acontecimento bom ou mau.
Para ser um bom pai, o nosso trabalho começa quando decidimos que queremos ter um filho, O filho não desejado, geralmente, não é amado, e o futuro dele passará a ser ameaçado desde o seu nascimento. Existem algumas dicas que poderão ajudar nosso trabalho de mestre de obras para “construir” um filho que goste de nós. Elas começam cedo, antes de o filho nascer. Curta a gestação de sua mulher. Passe a mão na barriga dela. Fale e cante para o bebê; já se sabe que ele ouve e gosta. Sinta os pulinhos.
Se você não tem “medo” de sangue, veja o parto. Assim que nascer, coloque seu filho no colo; olhe-o bem nos olhos. O olho-a-olho é uma conduta freqüente no reino animal — a mãe lambe e olha a cria que, por sua vez, olha a mãe. Esse comportamento, extremamente importante para a ligação mãe-filho no reino animal, tem sido descuidado entre os humanos, principalmente pelo aumento exagerado das operações cesarianas. Imite as mães.
Embora a mãe seja mais importante para o bebê até os dois anos, aceite o dito com reservas. Ajude sua mulher a cuidar dele. Se possível, vença o nojo e troque-lhe as fraldinhas. Converse com seu filho recém-nascido, com seu filho bebê. Ponha-o no colo, conte histórias. Cante, mesmo que você não tenha uma boa voz. Ele vai adorar. Cada afago, historinha, cantiga, é um tijolo bem colocado.
Seu filho está crescendo. Ajude-o a engatinhar. Ensine-o a andar; deixe que ele sinta a segurança das suas mãos, que irão ajudá-lo para sempre. Brinque com ele, role no chão, abrace-o e beije-o bastante. Você trabalha o dia inteiro? Reserve um tempo à noite para seu filho. Lembre-se de que tudo o que você fizer terá um retorno, bom ou mau.
Todo mundo gosta de carinho e atenção. A criança, mais ainda. Maiorzinha, ela gosta decorrer, brincar. Participe, jogue bola, pule corda, penteie as bonecas (não pega mal), coma “comidinhas” e sucos imaginários que ela fez. Desenvolva a criatividade e a imaginação de seu filho; faça-o desenhar, ensine-o a criar os próprios brinquedos (caixa de fósforos, paus de vassouras), jogue com ele (damas, xadrez), estimule-o a contar histórias. Acompanhe-o nos passeios, na natação, na ginástica, no futebol. Ele gostará muito de receber bilhetinhos e cartas suas. Ele se sentirá importante ao ver o nome dele no envelope. Sobretudo elogie seu filho e, se necessário, repreenda-o; não seja sempre bonzinho.
Os alicerces e a estrutura estão prontos. Aceite seu filho como é, não do ponto de vista de como você queria que fosse, embora isso possa ser difícil. Cuidado para não expressar as suas expectativas em relação ao seu filho, pois poderá frustrá-lo. Você pode desejar que ele seja um atleta e ele goste de artes e leitura. Coloque as necessidades de seu filho e de sua família acima das suas ou verifique se não existe forma de compatibilizá-las. Não fique cobrando a todo momento o que fez por ele, o que acha que ele lhe deve.
Não ache que você é o senhor da verdade. Tente entender os pontos de vista de seu filho. Se você realmente achar que ele está errado, aconselhe-o de maneira amistosa e firme. Nunca deixe que sua autoridade seja questionada, mas também nunca a mantenha praticando o autoritarismo.
Não destrua o que de mais importante tem seu filho; a auto-estima, rotulando-o de irresponsável, burro, Incapaz, incompetente, irrecuperável. Pelo contrário, elogie-o sempre que possível, enaltecendo suas qualidades, principalmente morais.
Uma boa maneira de saber como foi o seu dia em relação ao seu filho é a de se perguntar ao deitar: “Hoje abracei e elogiei meu filho?”. Todo mundo gosta de ser elogiado, ser tratado com carinho e compreensão.
Não deixe que as preocupações oriundas de seu trabalho sejam levadas para casa. Se estiver multo angustiado e preocupado utilize, se necessário, o silêncio, mas não agrida sua família. Você deve ser o centro de equilíbrio e confiança. Se você errou ou traiu a confiança de seu filho, peça-lhe desculpas; fará bem para você e para ele. Ele aprenderá, com você, que todos podem errar e que, nesses casos, as desculpas são necessárias. Não confunda pedir desculpas com perda de autoridade, porém, não viva pedindo desculpas.
Não seja muito indulgente, negligente ou fraco. Nem rígido, dominador, controlador. Se você tem vários filhos, lembre-se de que, embora se comportem de formas diferentes, todos devem ser especiais para você e o maior presente que você poderá dar a eles é você mesmo.
OBS:
O autor do texto acima é Márcio Lisboa é Pediatra em Brasília - DE e Professor titular de Pediatria da Universidade de Brasília.
Esse apesar de ter publicado a quase 10 anos precisamente em 07/10/99 continua muito atual.
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