LONGEVIDADE x
IMORTALIDADE
Mario Gentil
Costa
L
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ongevidade é
meta prioritária de todos os humanos. Ninguém quer morrer cedo, e, embora o
paradoxo, ninguém quer ser velho ou aceita sem protestos os sinais do
envelhecimento. A aparência jovem - ou seus simulacros - comanda as
preocupações e determina ou justifica qualquer sacrifício. Daí tanto campo para
as técnicas cirúrgicas de rejuvenescimento, tais como os liftings, os botoxes,
as lipoaspirações, os silicones, as plastias em geral. Mesmo que isso envolva
riscos e já tenha resultado em óbitos, vale tudo na luta inglória contra os
inexoráveis estragos do tempo. São raros os testemunhos de gente famosa que se
recusa a essas práticas, como o de um certo ator, que, diante da cautelosa
sugestão de uma fã ou de uma repórter, teria declarado ser contra tais
artifícios por considerar cada uma de suas rugas - que de fato não são poucas -
uma medalha adquirida em sua guerra pela sobrevivência. Admirável!
A ânsia pela
vida longa cresce diante da constatação de que algumas espécies, tanto na fauna
quanto na flora, são capazes de viver séculos. Afinal, por que só a gente - que
se tem na orgulhosa conta de ser a obra favorita da "criação" - tem
de pagar o preço de uma morte comparativamente precoce, se até um estúpido
molusco pode viver 400 anos, como foi divulgado recentemente. Para se ter idéia
do quanto essa concha, chamada Quahog, já viveu, basta lembrar que é
contemporânea de Shakespeare. Isso, por acaso, é justo? Pode até não ser, mas
parece ter explicação científica. Segundo as conclusões do pesquisador Leonard
Hayflick, o envelhecimento decorre do desgaste no metabolismo celular. Um ser
vivo permanece saudável enquanto suas células conservam a capacidade de se
reproduzir à perfeição. E esse fac-símile decai com a seqüência da repetição.
Seria, em analogia exagerada e grosseira, como se sucessivas cópias-carbono
servissem de matriz para o similar subseqüente; as imperfeições serão
crescentes e inevitáveis. De resto, o número de vezes que uma célula pode
replicar-se é programado por seus genes.
Além desse
fator genético, a duração de cada ser depende da intensidade com que ele
consome suas reservas de energia, ou seja, quanto mais intenso esse
metabolismo, mais curta será sua vida. Um exemplo ilustrativo é o beija-flor,
que, para sustentar-se parado no ar, bate as asas noventa vezes por segundo e,
para isso, consome uma média de 6.000 calorias diárias. Pois bem. O preço que
ele paga pelo privilégio dessa façanha de beleza plástica incomparável é viver
a média de dois anos, ao passo que um canário, que se contenta em cantar, vive
vinte, e um papagaio, que se dedica a repetir gracinhas e palavrões, pode
chegar aos oitenta. Já a baleia, que tem energia calórica de sobra, chega
facilmente aos 100 anos. Mas a regalia maior - ou mais injusta - coube a uma
tartaruga chamada "Harriet", levada por Charles Darwin das Ilhas
Galápagos para a Inglaterra, e que faleceu no ano passado aos 175 anos.
Tudo isso
aponta para o aparente erro estratégico que os humanos cometem ao priorizar o
rendimento máximo nos esportes competitivos. Ficará a cargo do futuro, provar
que as atuais gerações de gloriosos medalhistas olímpicos, maratonistas e
similares viverão menos. Tudo faz crer que a atividade física, praticada
moderadamente e sem objetivos de bater sempre os recordes anteriores - como se
o ser humano não conhecesse limites - é o segredo da longevidade sadia. As
reações químicas intracelulares, através das quais o organismo humano sintetiza
energias, também produzem os chamados radicais-livres que levam à oxidação
celular e, em conseqüência, ao envelhecimento do corpo.
Existe um
outro aspecto pouco cogitado, por remeter a indagações de ordem mais filosófica
que biológica, como se, por detrás de tudo, prevalecesse um determinismo
ontológico de ordem cósmica: "No estágio atual da evolução, o ser vivo,
cumprindo inconscientemente as leis imutáveis do Ciclo de Krebs - nascer,
crescer, reproduzir-se e morrer - preserva-se saudável até o período em que se
reproduz e assegura a permanência de sua espécie. Depois, disso, por mais que
lute e resista, ele, como indivíduo, entra num lento processo de falência
orgânica até o momento de ceder espaço ao seu sucessor. Assim é a vida, por
mais que as religiões e seus arautos nos acenem com perspectivas de sobrevivência
eterna. Esta é minha honesta maneira de ver. E vale para todos, inclusive para
os vegetais.
Por fim, foi
encontrada no Brasil uma árvore, o Jequitibá-Rosa, que já completou 3000 anos.
Quando Cristo teria pisado o planeta, ela já contava 1000. Mas como não existe
imortalidade, ela também morrerá...
OBS:
O autor do texto Mario Gentil Costa, reside em Florianópolis,
SC, é médico otorrinolaringologista, com CRM: SC339(ativo)
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